Bioenergia: o Brasil como protagonista global

Pablo Di Si, presidente & CEO do Grupo Volkswagen da América

Por Pablo Di Si*

O Brasil é extremamente privilegiado no que diz respeito à energia limpa. Cerca de 85% da matriz energética do País é proveniente de fontes renováveis, o que faz dela a melhor matriz energética do mundo. A oferta de energia renovável é fundamental para um modelo de negócios sustentável, ambientalmente correto e sólido.

Esse contexto exige atenção e atuação institucional qualificada e engajada, para garantir a evolução da transição energética na mobilidade brasileira de forma eficiente e exemplar. O que dá a este momento na história do Fórum Nacional Sucroenergético importância fundamental, na medida em que a entidade se reinventa e passa a ser conhecida como Bioenergia Brasil, refletindo de forma inequívoca o futuro promissor das bioenergias.

Iniciativas por parte de empresas, governo, entidades e universidades têm buscado incentivar o estudo de tecnologias com baixa emissão de CO2 com base, por exemplo, em biocombustíveis. Alguns estudos têm mostrado a importância do Brasil na área de biocombustíveis em razão da produção em grande escala de etanol, iniciada na década de 70 com o Proálcool.

O país detém hoje 30% do mercado global, sendo o maior produtor do mundo de etanol a partir da cana-de-açúcar, e tem a maior frota de veículos flexíveis do mundo. O etanol é uma grande alternativa para a descabornização do setor automotivo, considerando que é cerca de 70% menos poluente que a gasolina, com potencial para ser utilizado também na hibridização e eletrificação de veículos.

Acredito fortemente no potencial do Brasil como pioneiro na criação de novas tecnologias para alavancar o País como motor da sustentabilidade global. Já temos uma importante inovação desenvolvida aqui no País com grande impacto na redução de CO2 a partir do uso do etanol, que é o motor flex. Por isso, é de extrema importância o trabalho em equipe multifuncional para definir os biocombustíveis como um pilar estratégico complementar para a descarbonização, incentivando a criação de políticas públicas que considerem a emissão de CO2 com base no ciclo completo, desde a produção de combustível/energia até a emissão no escapamento, a chamada medição “do poço-à-roda”.

O etanol é também um caminho a ser seguido em outros países, como Colômbia e Índia, por exemplo, que têm usado a experiência brasileira com biocombustíveis para reduzir a pegada do setor automotivo local, já que a infraestrutura para a mobilidade elétrica deve acontecer a passos mais lentos nessas regiões. Isso, claro, considerando que em termos de emissões e analisando todo o ciclo de vida, o modelo híbrido com etanol é tão eficiente em emissões quanto um veículo elétrico.

Não bastasse tudo isso, é importante lembrar que da cana-de-açúcar pode-se aproveitar praticamente tudo, pois os subprodutos e resíduos podem ser utilizados na alimentação humana e animal, na fertilização de solos e na cogeração de energia, como o biogás.

Além do viés da Sustentabilidade, os biocombustíveis têm um importante papel social e econômico: os setores Automotivo e Sucroenergético respondem por 5% do PIB do país e geram mais de 19 milhões de empregos diretor e indiretos.

Não há dúvidas que as mudanças para carros elétricos e híbridos já começaram. Mas até a consolidação total desse processo precisamos concretizar propostas para criar alternativas eficientes e sustentáveis. E, no jogo da descarbonização, o Brasil pode ser protagonista oferecendo, por meio da bioenergia, alternativas que beneficiem todo o mundo.

*Pablo Di Si, presidente & CEO do Grupo Volkswagen da América, foi Chairman Executivo da Volkswagen América Latina.